Carta Aberta ao Presidente do INSS: “DAQUI PRA FRENTE” NÃO É O BASTANTE
 8 de agosto de 2025 às 10:23
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Caro presidente,
Não sei se o senhor conhece os nossos números. Não me refiro aos “números oficiais” que aparecem
nos relatórios e discursos, especialmente os da economia. Falo dos números reais, aqueles que não
entram nas planilhas da presidência e que medem sofrimento, perdas e omissões.

São números que contam:

  • Servidores adoecidos por condições insalubres de trabalho;
  • Famílias destruídas por suicídios;
  • Adoecimentos silenciosos causados por metas abusivas e pressões desumanas;
  • Vícios surgindo como fuga diante de um cotidiano insustentável;
  • Milhões descontados indevidamente de benefícios de pessoas já empobrecidas;
  • Empréstimos não solicitados, vazamentos de dados e lucros bilionários de quem se aproveita disso;
  • Parque tecnológico sucateado;
  • Ausência de condições mínimas de ergonomia e segurança;
  • Falta de treinamento à altura da complexidade do trabalho no INSS.

O senhor sabe que somos uma autarquia imensa e essencial. Essa grandeza deveria ser reconhecida e
tratada como tal. Mas a realidade revela outro retrato: um que não se apaga com discursos.
Dizer apenas “daqui pra frente” sem enfrentar esse histórico é insuficiente. Se a expressão tiver algum
sentido, que seja o de exigir medidas concretas e responsabilidades claras, e não apenas retórica.

Se “daqui pra frente” for compromisso verdadeiro, que inclua, no mínimo:

  1. Reconhecimento público dos índices reais de adoecimento ocupacional e criação de comissão
    independente para apurar causas e responsabilidades;
  2. Cumprimento imediato das cláusulas negociadas após a greve de 2024 e reabertura das
    negociações com prazo e mediadores acordados com a categoria;
  3. Programa emergencial de assistência à saúde mental, reabilitação e acompanhamento para
    servidores e familiares afetados;
  4. Auditoria sobre descontos e empréstimos consignados, com restituição em caso de erros e medidas
    efetivas de proteção aos dados pessoais dos segurados;
  5. Plano de modernização tecnológica e manutenção urgente do parque de TI, com cronograma público
    e fiscalização;
  6. Adoção imediata de normas de ergonomia e segurança em todas as unidades, com orçamento
    garantido;
  7. Programa de capacitação contínua que contemple a complexidade técnica e de atendimento do
    trabalho no INSS;
  8. Compromisso público da presidência de honrar e preservar as conquistas históricas da categoria,
    reconhecendo o papel das gestões anteriores e das lutas que nos formaram.

Até quando aceitaremos que “daqui pra frente” seja apenas um slogan para apagar responsabilidades
e negar a história? Até o fim da previdência pública? Até o fim da dignidade dos servidores do INSS?
O compromisso precisa incluir o passado, porque somos parte dele. Queremos respeito, justiça e
dignidade, desde o primeiro dia em que ingressamos no Instituto. Aqui deixamos nossos melhores anos,
nossa saúde e, muitas vezes, nossa vida.
Continuaremos lutando por reparação, por memória e por condições dignas de trabalho.
Exigimos ações concretas, e exigimos agora.
Per secula seculorum.

Um servidor que mantém o anonimato por temer represálias

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